terça-feira, 13 de abril de 2010

A Menina Dos Pensamentos Distantes


Era uma menina feliz, como tantas outras. Tinha amigos e namorados, como tantas outras. Sorria, cantava, pulava e dançava, como tantas outras. Mas nessa menina havia algo de diferente.
Seus amigos a olhavam e a percebiam distante, séria, quase estóica. Ao ser questionada respondia apenas:


_Estou pensando.


Seus pensamentos não eram triviais, pueris ou fúteis, eram pensamentos profundos, distantes. O que ela pensava era segredo dela. Ela sabia, e isso bastava. Pra que conversas se ninguém a entenderia? Sabia ser todo o seu pensamento subjetivo demais para qualquer outro.

Ela tinha necessidade de amigos, de pessoas que lhe fizessem sentir alegria. Necessidade de sair, cantar, pular e dançar, de viajar. Tinha necessidade de acreditar que era feliz. Mas essa menina também tinha necessidade de solidão.

Ao ficar só logo percebia a solidão existencial. Se via só no mundo. Sabia que era essencialmente só! Qualquer pessoa, por mais perto fisicamente que estivesse, estava distante anos-luz. Ela, apenas ela, é todo um universo, um universo distante de todos os outros, um universo distante que só quer viver e ser feliz. A consciência de sua solidão não a deixa.

A menina dos pensamentos distantes era só e sabia disso, como poucas outras.


por Rafael Shimoda